Secretário
de Estado de Cavaco Silva critica política educativa
“Juntam-se escolas como embalagens de fiambre”
Joaquim
Azevedo, secretário de Estado do Ensino no segundo Governo de Cavaco Silva,
teceu duras críticas à política educativa dos últimos anos. “Os
mega-agrupamentos são a evidência do desnorte da administração central.
Juntam-se escolas como embalagens de fiambre, aperta-se um pouco e cabe sempre
mais uma”, afirmou o professor universitário na conferência ‘Autonomia e
Inovação Curricular: Olhares Diferenciados’, organizada esta quarta-feira pela
Comissão de Educação da Assembleia da República.
“Tanta precipitação, tanta falta de estudo, tanto
autoritarismo”, criticou Azevedo, considerando que “a administração
central não está disponível para abdicar do seu poder” e atribuir mais
autonomia às escolas.
Helena Peralta, do Instituto
de Educação da Universidade de Lisboa, também foi muito crítica da
forma como são feitas em Portugal as reformas curriculares. “Nos outros
países europeus, as reformas curriculares são pensadas,
estruturadas. Aqui mudamos porque sim. E isto, senhores representantes
do povo, é um perigo”, avisou, dirigindo-se aos deputados de todas as
bancadas parlamentares presentes, propondo “uma constituição para a
Educação”. “Já temos a lei de bases mas não é cumprida, uma constituição
obrigaria mais”, disse.
A deputada bloquista Ana
Drago criticou a forma casuística como foi feita a revisão curricular:
“O ministro Nuno Crato, como diz a música, teve um ‘feeling’, e trocou
umas disciplinas por outras.”
Por seu lado, a deputada comunista Rita Rato exigiu a “urgente suspensão da revisão curricular”.
Inês
Teotónio Pereira, do CDS-PP, depois de diversos intervenientes terem
defendido que a revisão curricular vai levar ao despedimento de muitos
professores, afirmou que “com o reforço da carga horária em disciplinas
estruturantes até podem ser precisos mais professores”.
Mário
Nogueira, secretário-geral da Fenprof, que assistiu à conferência,
considerou “ridícula” a afirmação da deputada, frisando que “mesmo que
entrem alguns professores por esta via, são muitos mais os que vão para a
rua”.
Acácio Pinto, do PS, afirmou que “o Governo
faz o discurso da autonomia das escolas mas revela um centralismo
absoluto na acção”. Já Maria Ester Vargas, do PSD, considerou que a
revisão curricular “foi uma decisão tomada de forma partilhada, após
mais de 1600 contributos”.
Antes, já diversos intervenientes tinham criticado o Governo por não ter tido em conta os contributos apresentados.
In "Correio da Manhã" online de 04-06-2012